quinta-feira, 15 de julho de 2010

Relações Interpessoais


Diversas definições de comunicação foram já referidas ao longo deste trabalho; uma outra ideia, definida por Wood, esclarece comunicação como a partilha de necessidades, experiencias, ideias, pensamentos, sentimentos com outras pessoas. A comunicação humana assenta então numa interacção entre pessoas onde está presente a linguagem, escrita e falada, os gestos, os símbolos, rir, ignorar, tocar, apontar ou fixar o olhar; gritar, abanar a cabeça, grunhir ou até pestanejar são modos de comunicar.
A comunicação é vista, portanto, como um elemento básico da interacção humana e é um processo interpessoal complexo que envolve trocas verbais e não verbais de informação e ideias, comportamentos e relacionamentos. Considera-se comunicar um acto de partilhar que permite às pessoas estabelecerem contactos e produzir mudanças.
Existem certas competências e capacidades que condicionam a comunicação, de referir, capacidades cognitivas, sensoriais e motoras. Podemos identificar como capacidades cognitivas a atenção, a memória, a capacidade de associação e de generalização, a sequenciação e a motivação. Por seu turno, as capacidades sensoriais envolvidas no processo comunicativo são a audição, a visão e o tacto. Por último, a musculatura facial, a motricidade fina (capacidade para executar movimentos finos com controlo e destreza) e a motricidade global (habilidade de controlar as contracções dos grandes músculos corporais na geração de movimentos amplos) fazem parte das capacidades motoras que devem ser refinadas para uma melhor comunicação.
A comunicação interpessoal assenta na relação com os outros e caracteriza-se por saber dialogar, saber escutar, saber perguntar e saber falar. No entanto, a comunicação entre pessoas não se restringe a estes “saberes”, acrescenta também a interpretação do feedback quando estamos a comunicar. O feedback permite-nos identificar e corrigir obstáculos, certificarmo-nos se a mensagem foi recebida ou não e de que modo, conhecer a personalidade do receptor, adaptar o conteúdo da mensagem e aumentar o grau de estabilidade.


Seguidamente, serão esclarecidos quatro estilos de comunicação: passivo, agressivo, manipulador e assertivo. Um estilo agressivo coloca os desejos, necessidades e direitos individuais acima dos outros; é identificado quando uma pessoa fala alto, interrompe os outros e não controla o tempo que está a falar. Este tipo de comportamento faz com que os outros também sejam agressivos. Num meridional oposto, o estilo passivo ignora os direitos e sentimentos da pessoa que o utiliza, entrando raramente em desacordo. É característico que uma pessoa que usa maioritariamente o estilo comunicativo passivo raramente dizer que não e estar frequentemente ansioso; as outras pessoas abusam então deste indivíduo criando um mal-estar consigo próprio. Uma pessoa que adopta um estilo manipulador considera-se hábil no relacionamento interpessoal, fala por meias palavras, mostra sempre boas intenções e acha que quem não usa este sistema é estúpido. Sem querer impor regras de comunicação e descuidar os outros estilos, o melhor sistema para uma correcta comunicação é o estilo assertivo. Uma pessoa que actua com assertividade mostra vontade de defender os seus direitos, mas ao mesmo tempo é capaz de aceitar que os outros também tenham os seus. Um comunicador assertivo caracteriza-se por ouvir e procurar entender, respeitar as pessoas aceitando acordos e soluções, vai direito ao assunto sem ser áspero e insiste na procura do seu objectivo; na expressão corporal, o contacto visual é suficiente para dar a entender que está a ser sincero, o tom de voz é moderado, neutro mas firme, a postura é comedida e segura e está em consonância com as palavras. Sumariamente, no estilo assertivo a pessoa está à vontade nas relações face a face, é verdadeiro consigo e com os outros, é objectivo e claro, não deixem que o pisem e estabelece relações de confiança.
Um dos factores mais importante nas relações interpessoais é a apresentação da pessoa. Tendo em conta que a primeira impressão é muito valorizada, é necessário saber apresentar-se, usando um estilo autêntico com atenção aos pormenores, ser sincero, amistoso e coerente.
Os factos apresentados anteriormente representam a generalidade das relações interpessoais e devem ser aplicados pelos profissionais de saúde. No entanto, essas mesmas relações adquirem contornos especiais quando a comunicação ocorre entre uma pessoa sã e uma pessoa doente. Um Homem quando está doente, está possuído pelo desânimo, sente necessidade de ajuda e por isso chama o profissional de saúde para se poder exprimir. Os doentes exprimem-se melhor quando o profissional se preocupa, ouve as respostas e mostra vontade de ajudar ou arranjar ajuda. O profissional deve ter especial atenção em produzir uma linguagem afirmativa, clara e precisa, sem imprecisões e sem subjectivismo.
A tabela seguinte resume algumas técnicas de comunicação terapêutica na relação técnico de saúde/doente.

Técnica Definição Exemplo Valor terapêutico Ameaça não terapêutica
Ouvir Processo activo de receber as informações e examinar a sua própria reacção às mensagens recebidas Manter o contacto visual e a comunicação não verbal receptiva. Comunicam de modo não verbal, o interesse e aceitação do enfermeiro ao paciente. Falha em ouvir.
Amplas aberturas Estimular o paciente a escolher o tema da discussão “O que você está pensando?” Indica a aceitação pelo profissional e o valor da iniciativa do paciente Rejeição das resposta, domínio do profissional.
Reafirmação Repetir para o paciente o pensamento principal que ele expressou “Você disse que sua mãe te abandonou quando você tinha 5 anos de idade.” Indica que o profissional está escutando atentamente o paciente. Falta de atenção e interpretação pelo profissional.
Esclarecimento Tentar pôr em palavras as ideias vagas do paciente. “Não estou certa do que você quer dizer, poderia repetir?” Ajuda a esclarecer os sentimentos, ideias e percepções. Falha em sondar, compreensão presumida.
Reflexão Orientar ideias, sentimentos, dúvidas e satisfação de volta para o paciente “Você está tenso e ansioso, e isso tem relação com a conversa que você teve com sua mãe ontem?” Confirma que o profissional compreende o que o paciente está dizendo, e indica empatia interesse e respeito por ele. Sentimentos e respostas impróprias à experiência cultural e ao nível de instrução do paciente.
Focalização Questões ou afirmações que ajudem o paciente a ir alem do assunto de interesse. “Acho que deveríamos falar mais sobre você e seu pai.” Permite o paciente discutir os assuntos centrais. Mudar de tema.
Identificar os temas Ressaltar os temas ou problemas que surgem repetidamente. “Percebi que em todos os seus relacionamentos você foi ferido por um homem. Você acha que isso é um tema fundamental. Permite melhor exploração e compreensão dos problemas importantes do paciente. Fornecer aconselhamento, reafirmar, desaprovar.
Silêncio Falta de comunicação verbal por motivo terapêutico. Sentar com o paciente e comunicar de modo não verbal, o interesse e o envolvimento. Dar tempo ao paciente para pensar e ter discernimento, enquanto transmite apoio, compreensão e aceitação. Questionar o paciente, falha em quebrar o silêncio não terapêutico.
Humor Libera energia por meio de um comentário cómico sobre a imperfeição. “Isso dá um novo significado geral à palavra ‘nervoso’, disse com ar de brincadeira”. Pode promover o discernimento tornando conscientes os temas reprimidos. Subestimar o paciente, tentar evitar intimidade não terapêutica;


Adoptado de STUART, G.W & Laraia, M.T Enfermagem psiquiátrica 4 ed.. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso editores 2002.


Santos, Luísa. Comunicação – Relações Interpessoais - Apresentação para Curso Pós Graduação Comunicação em Saúde Escola Superior de Saúde Instituto Politécnico de Viana, Viana do Castelo, 2010
Cardoso, Rui Mota. Comunicação interpessoal - Apresentação para Curso Pós Graduação Comunicação em Saúde Escola Superior de Saúde Instituto Politécnico de Viana, Viana do Castelo, 2010
SILVA. M.J.P. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações pessoais em saúde. São Paulo: gente, 1996.133p.
STEFANELLI, M.C. Comunicação com paciente: teoria e ensino. 2. Ed. São Paulo: Robe, 1993.200p.

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