Diversas definições de comunicação foram já referidas ao longo deste trabalho; uma outra ideia, definida por Wood, esclarece comunicação como a partilha de necessidades, experiencias, ideias, pensamentos, sentimentos com outras pessoas. A comunicação humana assenta então numa interacção entre pessoas onde está presente a linguagem, escrita e falada, os gestos, os símbolos, rir, ignorar, tocar, apontar ou fixar o olhar; gritar, abanar a cabeça, grunhir ou até pestanejar são modos de comunicar.
A comunicação é vista, portanto, como um elemento básico da interacção humana e é um processo interpessoal complexo que envolve trocas verbais e não verbais de informação e ideias, comportamentos e relacionamentos. Considera-se comunicar um acto de partilhar que permite às pessoas estabelecerem contactos e produzir mudanças.
Existem certas competências e capacidades que condicionam a comunicação, de referir, capacidades cognitivas, sensoriais e motoras. Podemos identificar como capacidades cognitivas a atenção, a memória, a capacidade de associação e de generalização, a sequenciação e a motivação. Por seu turno, as capacidades sensoriais envolvidas no processo comunicativo são a audição, a visão e o tacto. Por último, a musculatura facial, a motricidade fina (capacidade para executar movimentos finos com controlo e destreza) e a motricidade global (habilidade de controlar as contracções dos grandes músculos corporais na geração de movimentos amplos) fazem parte das capacidades motoras que devem ser refinadas para uma melhor comunicação.
A comunicação interpessoal assenta na relação com os outros e caracteriza-se por saber dialogar, saber escutar, saber perguntar e saber falar. No entanto, a comunicação entre pessoas não se restringe a estes “saberes”, acrescenta também a interpretação do feedback quando estamos a comunicar. O feedback permite-nos identificar e corrigir obstáculos, certificarmo-nos se a mensagem foi recebida ou não e de que modo, conhecer a personalidade do receptor, adaptar o conteúdo da mensagem e aumentar o grau de estabilidade.
Seguidamente, serão esclarecidos quatro estilos de comunicação: passivo, agressivo, manipulador e assertivo. Um estilo agressivo coloca os desejos, necessidades e direitos individuais acima dos outros; é identificado quando uma pessoa fala alto, interrompe os outros e não controla o tempo que está a falar. Este tipo de comportamento faz com que os outros também sejam agressivos. Num meridional oposto, o estilo passivo ignora os direitos e sentimentos da pessoa que o utiliza, entrando raramente em desacordo. É característico que uma pessoa que usa maioritariamente o estilo comunicativo passivo raramente dizer que não e estar frequentemente ansioso; as outras pessoas abusam então deste indivíduo criando um mal-estar consigo próprio. Uma pessoa que adopta um estilo manipulador considera-se hábil no relacionamento interpessoal, fala por meias palavras, mostra sempre boas intenções e acha que quem não usa este sistema é estúpido. Sem querer impor regras de comunicação e descuidar os outros estilos, o melhor sistema para uma correcta comunicação é o estilo assertivo. Uma pessoa que actua com assertividade mostra vontade de defender os seus direitos, mas ao mesmo tempo é capaz de aceitar que os outros também tenham os seus. Um comunicador assertivo caracteriza-se por ouvir e procurar entender, respeitar as pessoas aceitando acordos e soluções, vai direito ao assunto sem ser áspero e insiste na procura do seu objectivo; na expressão corporal, o contacto visual é suficiente para dar a entender que está a ser sincero, o tom de voz é moderado, neutro mas firme, a postura é comedida e segura e está em consonância com as palavras. Sumariamente, no estilo assertivo a pessoa está à vontade nas relações face a face, é verdadeiro consigo e com os outros, é objectivo e claro, não deixem que o pisem e estabelece relações de confiança.
Um dos factores mais importante nas relações interpessoais é a apresentação da pessoa. Tendo em conta que a primeira impressão é muito valorizada, é necessário saber apresentar-se, usando um estilo autêntico com atenção aos pormenores, ser sincero, amistoso e coerente.
Os factos apresentados anteriormente representam a generalidade das relações interpessoais e devem ser aplicados pelos profissionais de saúde. No entanto, essas mesmas relações adquirem contornos especiais quando a comunicação ocorre entre uma pessoa sã e uma pessoa doente. Um Homem quando está doente, está possuído pelo desânimo, sente necessidade de ajuda e por isso chama o profissional de saúde para se poder exprimir. Os doentes exprimem-se melhor quando o profissional se preocupa, ouve as respostas e mostra vontade de ajudar ou arranjar ajuda. O profissional deve ter especial atenção em produzir uma linguagem afirmativa, clara e precisa, sem imprecisões e sem subjectivismo.
A tabela seguinte resume algumas técnicas de comunicação terapêutica na relação técnico de saúde/doente.
Técnica | Definição | Exemplo | Valor terapêutico | Ameaça não terapêutica |
Ouvir | Processo activo de receber as informações e examinar a sua própria reacção às mensagens recebidas | Manter o contacto visual e a comunicação não verbal receptiva. | Comunicam de modo não verbal, o interesse e aceitação do enfermeiro ao paciente. | Falha em ouvir. |
Amplas aberturas | Estimular o paciente a escolher o tema da discussão | “O que você está pensando?” | Indica a aceitação pelo profissional e o valor da iniciativa do paciente | Rejeição das resposta, domínio do profissional. |
Reafirmação | Repetir para o paciente o pensamento principal que ele expressou | “Você disse que sua mãe te abandonou quando você tinha 5 anos de idade.” | Indica que o profissional está escutando atentamente o paciente. | Falta de atenção e interpretação pelo profissional. |
Esclarecimento | Tentar pôr em palavras as ideias vagas do paciente. | “Não estou certa do que você quer dizer, poderia repetir?” | Ajuda a esclarecer os sentimentos, ideias e percepções. | Falha em sondar, compreensão presumida. |
Reflexão | Orientar ideias, sentimentos, dúvidas e satisfação de volta para o paciente | “Você está tenso e ansioso, e isso tem relação com a conversa que você teve com sua mãe ontem?” | Confirma que o profissional compreende o que o paciente está dizendo, e indica empatia interesse e respeito por ele. | Sentimentos e respostas impróprias à experiência cultural e ao nível de instrução do paciente. |
Focalização | Questões ou afirmações que ajudem o paciente a ir alem do assunto de interesse. | “Acho que deveríamos falar mais sobre você e seu pai.” | Permite o paciente discutir os assuntos centrais. | Mudar de tema. |
Identificar os temas | Ressaltar os temas ou problemas que surgem repetidamente. | “Percebi que em todos os seus relacionamentos você foi ferido por um homem. Você acha que isso é um tema fundamental. | Permite melhor exploração e compreensão dos problemas importantes do paciente. | Fornecer aconselhamento, reafirmar, desaprovar. |
Silêncio | Falta de comunicação verbal por motivo terapêutico. | Sentar com o paciente e comunicar de modo não verbal, o interesse e o envolvimento. | Dar tempo ao paciente para pensar e ter discernimento, enquanto transmite apoio, compreensão e aceitação. | Questionar o paciente, falha em quebrar o silêncio não terapêutico. |
Humor | Libera energia por meio de um comentário cómico sobre a imperfeição. | “Isso dá um novo significado geral à palavra ‘nervoso’, disse com ar de brincadeira”. | Pode promover o discernimento tornando conscientes os temas reprimidos. | Subestimar o paciente, tentar evitar intimidade não terapêutica; |
Adoptado de STUART, G.W & Laraia, M.T Enfermagem psiquiátrica 4 ed.. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso editores 2002.
Santos, Luísa. Comunicação – Relações Interpessoais - Apresentação para Curso Pós Graduação Comunicação em Saúde Escola Superior de Saúde Instituto Politécnico de Viana, Viana do Castelo, 2010
Cardoso, Rui Mota. Comunicação interpessoal - Apresentação para Curso Pós Graduação Comunicação em Saúde Escola Superior de Saúde Instituto Politécnico de Viana, Viana do Castelo, 2010
SILVA. M.J.P. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações pessoais em saúde. São Paulo: gente, 1996.133p.
STEFANELLI, M.C. Comunicação com paciente: teoria e ensino. 2. Ed. São Paulo: Robe, 1993.200p.
Sem comentários:
Enviar um comentário