Um dos desafios em comunicação com que os profissionais de saúde são confrontados frequentemente é a gestão das más notícias e gestão de luto. Uma má noticia que vai provocar dor, sofrimento, uma amálgama de emoções e sentimentos, um vazio existencial pela ruptura nos vínculos afectivos e nos projectos de vida, ou seja, vai transformar a vida e o modo de viver daquelas pessoas.
Má notícia é toda a informação que envolva uma mudança drástica e negativa na vida da pessoa e na perspectiva do futuro. Pode ser também definida como uma notícia com repercussões negativas para presente e/ou futuro da vida da pessoa ou de alguém próximo (familiar ou outra pessoa significativa).
Normalmente, uma má notícia anuncia uma perda, que, por sua vez, dá origem ao luto. O luto é definido como a resposta global, fisiológica e psicológica de um indivíduo à perda de uma pessoa, objecto ou algo significativo. O luto compreende 3 fases; numa primeira fase, o indivíduo passa por uma fase de torpor, choque e negação, depois atravessa uma fase de desorganização e desespero e, por fim, entra em reorganização e recuperação. O processo de luto é uma travessia longa que requer o apoio incondicional de que acompanha, no sentido de contribuir para a resolução saudável da situação, ajudando a pessoa a adquirir capacidade para redefinir os objectivos e descobrir de novo o prazer da vida, evitando a não resolução que pode conduzir à depressão ou a um estado de luto psicológico.
Aquando da comunicação de más notícias, é necessário ter em conta a gravidade da notícia e o impacto que esta terá nas vidas das pessoas. Além disso deve ter-se em conta a distancia que separa as expectativas do futuro e da realidade da situação, bem como as vivencias individuais de cada um. O comunicador preocupa-se ainda com as representações da doença, personalidade do doente, crenças filosóficas e espirituais e suporte emocional bem como social, tendo em conta que ao comunicar uma má notícia tem que automaticamente preocupar-se em ajudar o outro no seu processo de luto. A pessoa lesada necessita de ser informada, de ser ouvida, de ser compreendida e de encontrar disponibilidade e espaço para a sua angústia.
O modelo operacional mais divulgado para a comunicação de más notícias é o designado modelo SPIKES: Setting (preparar o que vai dizer e o ambiente), Perception (perceber o que a pessoa sabe ou pensa que tem), Invitation (perceber o tipo de informação que a pessoa quer), Knowledge (dar conhecimento da situação), Emotions (transmitir compreensão e proporcionar espaço para a pessoa partilhando o que pensa e sente), Summary ou Strategic plan (explicar o plano de acompanhamento).
A comunicação de más notícias deve seguir princípios bem definidos:
• Preparar o ambiente;
• Demonstrar disponibilidade e capacidade de escuta (mostrar que está a ouvir: repetir e reiterar);
• Fornecer informação clara e aberta sobre os factos e as circunstâncias;
• Questionar (questões fechadas para a história e abertas para o restante);
• Responder às questões de forma apropriada, o que inclui respostas empáticas ou factuais (identificar as emoções, a sua causa e reconhecê-las) e o silêncio, pois responder não significa uma resposta completa.
• Estabelecer uma relação de confiança, de respeito e empatia;
• Encorajar a expressão dê sentimentos, emoções e pensamentos, sem juízos de valor; antecipar medos;
• Ajudar a pessoa a consciencializar-se daquilo que está a viver e a reconhecer os sentimentos e emoções. Deixar a pessoa sentir-se triste;
• Evitar desviar atenção para outras situações análogas ou fazer comparações, evitar eufemismos, não minimizar a perda;
• Não esconder os nossos próprios sentimentos;
• Acompanhar a família junto da pessoa morta e proporcionar um momento para se despedirem;
• Facilitar as tomadas de decisão da família e respeitar as suas vontades.
• Evitar frases triviais - “É a vida”; “todos temos de morrer um dia”; ”as coisas vão melhorar”; “és muito jovem ainda podes refazer a tua vida”; “foi melhor assim”; “isto é a melhor solução”; “a senhora é nova pode ter outros filhos”; “se calhar foi melhor assim”; “foi melhor morrer agora antes de o conheceres”;
• O que se pode dizer: “Estou triste por si”; “como está a passar por tudo isto”; “isto deve ser difícil para si”; “O que posso fazer por si”; “Tenho muita pena”; “Estou aqui disposta a ouvi-la”; “lamento que o seu bebé tenha falecido. Há alguma coisa que possa fazer por si”.
• Ajudar a actualizar a perda, a viver sem a pessoa perdida, permitindo que fale sobre a mesma e repita a historia tantas vezes quanto necessário;
• Ajudar a reorientar prioridades, a restaurar a autoconfiança e a aprender a viver num mundo diferente;
• Evitar o isolamento e a solidão – encorajar o retorno às actividades da vida diária, emprego, visita a familiares e amigos, fazer exercício, participar em actividades sociais;
• Encaminhar para recursos da comunidade – apoio espiritual, grupos de ajuda.
Comunicar uma má notícia e ajudar o outro no seu processo de luto implica desenvolvimentos e mudanças que o terapeuta terá que adoptar a nível individual, da equipa, organizacional e a nível social. O comunicador deve ter consciência de si, das suas emoções e sentimentos, bem como dos seus medos. Tem que ter também capacidade para gerir as emoções, adquirir conhecimentos sobre comunicação, sobre o processo de luto e as reacções dos enlutados, capacidade para uma elaboração adequada dos seus próprios lutos e possuir auto-compreensão e auto-conhecimento.
Pereira, Maria Aurora. Comunicação de más notícias e gestão do luto- Apresentação para curso de pós-graduação Comunicação em Saúde Escola Superior de Saúde Instituto Politécnico Viana do Castelo, Viana do Castelo, 2010.
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