O verbo “cólere”, de que deriva “cultura”, exprime a ideia de “amanhar, cuidar, revolver” a terra, fertilizando-a e semeando a boa semente para que produza mais e melhor. Reporta-se, pois originariamente ao trabalho agrícola, compreendendo tanto o cultivo do solo, quanto o cultivo dos vegetais no solo.
Pensadores romanos antigos ampliaram o sentido da palavra e passaram a usá-la como sinónimo de refinamento e sofisticação pessoal. No decorrer da história, vários outros significados foram sendo atrelados à palavra. Inicialmente poderíamos entender cultura como o conjunto dos conhecimentos, das ideias e das crenças e a maneira com esses elementos apresentam-se na vida social. Uma outra concepção, de carácter mais abrangente, cultura diz respeito a tudo aquilo que caracteriza e existência social de um povo, nação ou grupos sociais no interior de uma sociedade, preocupando-se com a totalidade dessas características e a maneira como tais grupos concebem e organizam a vida social ou seus aspectos materiais.
Segundo Hofstede (2003), há quatro termos fundamentais sobre o conceito de cultura: símbolos, heróis, rituais e valores. Símbolos são palavras, gestos, figuras ou objectos que transportam um significado particular que é apenas reconhecido pelos que partilham a mesma cultura. Os heróis são pessoas, vivas ou falecidas, reais ou imaginárias, que possuem características altamente valorizadas numa determinada cultura e que servem desse modo de modelo de comportamento. Os rituais são actividades colectivas consideradas essenciais e realizadas para o próprio bem da colectividade. São exemplos de rituais formas de cumprimentar ou transmitir respeito aos outros e cerimónias sociais ou religiosas. Para Cuche (2002) Toda a cultura é um processo permanente de construção, desconstrução e reconstrução. Nenhuma cultura existe em “estado puro”, sem jamais ter sofrido influências externas.
A comunicação vincula pessoas e cultura. Por um lado, é através da comunicação que se pode inserir elementos externos a cultura, influenciando-a e modificando-a; por outro, como já vimos, a comunicação está directamente influenciada pela cultura onde se insere. Bastide (1979) descreve apropriadamente este facto ao afirmar que quanto mais afastadas a forma de um traço cultural estiver das formas dos traços culturais da civilização receptora, mais difícil será a sua aceitação.
Como vemos, a comunicação e cultura estão intimamente relacionadas. Um exemplo prático de comunicação em saúde é apresentado da seguinte forma: um folheto informacional, elaborado para uma determinada campanha para a promoção da saúde pode ser entregue numa comunidade distante dos grandes centros, numa tribo indígena, em zonas rurais ou em regiões isoladas; em qualquer um destes locais a forma como a informação é recebida ocorrerá de forma distinta.
Transmitindo estes conhecimentos para o caso prático da interacção social médico-paciente, muitas vezes o segundo não consegue perceber aquilo que lhe é transmitido por falta de competência cultural, porque o médico possui conhecimento objectivo, ao passo que o paciente apoia-se em crenças que, sendo mais abstractas, dificulta a comunicação.
SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. 14.ed. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1994.
HOFSTEDE, G. Cultures and organizations: software for the mind. New York: McGraw- Hill, 2004.
CUCHE, D. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru, São Paulo: Edusc, 2002.
BAPTISTA, RENATO DIAS e tal, As interconexões da comunicação e cultura com a saúde pública. Comunicação & Saúde, Volume 3:5, São Paulo, 2006.
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