quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Psicólogo substituía médico após cirurgias - JN

Psicólogo substituía médico após cirurgias

00h43m

Nuno Miguel Ropio

Frans Versteeg realizava as operações oftamológicas, mas logo depois rumava à Holanda. Era o psicólogo da clínica I-QMed, em Lagoa, que prestava os cuidados pós-operatórios aos pacientes. Tudo com base na experiência como assistente do cirurgião holandês.

Simpático e disponível. Só que com conhecimentos técnicos limitados. Assim é descrito Reinaldo Bartolomeu, o psicólogo da I-QMed, no Algarve, que, alegadamente, assegurava o pós-operatório. Segundo os doentes que sofreram infecções nas cirurgias oftalmológicas, o contacto com Versteeg, o médico holandês proprietário da clínica, deixava de ser possível nas horas posteriores às operações.

Desde conselhos de medicação e observação de pacientes, até ao contacto telefónico, o psicólogo – sem formação na área ocular além da experiência de seis anos – mostrava-se o substituto de Versteeg, que rumava à Holanda após as intervenções.

“O Reinaldo era simpático mas não sabia dizer nada de concreto. Nem viu que tinha uma lente dobrada dentro do olho a cortar-me a retina”, denuncia Maria Florinda Santos, de 61 anos, que em Janeiro de 2005 foi operada às cataratas por Versteeg. “Durante a operação percebi ele a dizer para o jovem [Reinaldo Bartolomeu] que tinha feito asneira. Tinha dobrado a lente e como não tinha mais nenhuma deixou-a lá”, revela.

Entre Janeiro e Setembro de 2005, não conseguiu ter mais contacto com o cirurgião holandês, que se apresentaria tanto como “Franciscus” quando se tratava das intervenções oftalmológicas, como “Frans” para os tratamentos de beleza e aplicação de botox. “Só me sugeriram viajar para a Holanda com outras três pessoas que tinham tido problemas como eu, para sermos operados por um colega do médico”, acrescenta aquela dirigente do Sindicato da Hotelaria. A viagem não ocorreu.

Descrição semelhante à de Wander Sequeira, amigo da doente brasileira Valdleine, que desde 22 de Julho está internada no Hospital dos Capuchos, em Lisboa, com prognóstico muito reservado, devido à cirurgia na I-QMed. “Durante as primeiras horas apareceu sempre [Reinaldo], mas agora até tem o telemóvel desligado)”, explica o cidadão brasileiro. O JN tentou obter uma reacção do psicólogo, mas este não respondeu aos contactos.

Entretanto, Valdleine será operada hoje aos dois olhos, de forma a debelar a grave infecção que continua a apresentar (ver caixa ao lado. Já ontem, como o JN adiantou, a Michael Donovan, de 66 anos, – um dos outros três pacientes a quem foi declarada cegueira definitiva – foi extraído o olho que ameaçava arriscar o alastramento da infecção a outras áreas.

O futuro de Veldleine está depositada na cirurgia a que será submetida hoje, quarta-feira, pelas 9 horas. Segundo Eliane, irmã daquela doente que até agora continua com prognóstico reservado e ainda não mereceu a declaração de cegueira definitiva, a equipa médica do Serviço de Oftalmologia dos Capuchos pediu que uma declaração de responsabilidade civil fosse assinada pela família, para a realização da intervenção.

A cidadã brasileira está há nove anos em Portugal, onde vive com dois filhos, uma menina de três anos e um rapaz de 15 anos. Apenas o último sabe do estado da progenitora. “Ela trabalhava na apanha de morango e era o único sustento deles (dos filhos). Somos gente humilde e trabalhadora. Não se como será a vida desses meninos, com a minha amiga, assim, nesse estado”, admitiu Wander Sequeira.

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